buscape/ bondfaro

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

REFLORESTAMENTO E RECUPERAÇÃO DE MATAS NATIVAS
É muito comum o questionamento sobre quais as espécies nativas devem ser plantadas em uma área degradada, com intenção de se fazer um reflorestamento ou regeneração de mata nativa, e também qual a melhor forma de fazê-lo. Existem aí algumas considerações:
1- Plantar ou deixar por conta da natureza
Existe uma opinião, endossada por setores do IBAMA, que recomenda deixar a regeneração da mata de forma espontânea, não plantando nem roçando o mato, apenas cercando a área para impedir entrada de gado. Desta forma voltariam a ocorrer espécies naturais da região, vindas de sementes das proximidades ou mesmo em estado de dormência.
Acreditamos porém que esta não é a melhor forma de se recuperar de maneira rápida e segura, pois este modelo se aplica a áreas apenas perturbadas, e não totalmente degradadas ou ocupadas por pastos. Nestes casos, sem a interferência do homem, dificilmente a mata nativa voltaria ao que era. O mais provável é que a área se torne uma chamada “capoeira”, com poucas espécies, e entre elas a predominância de invasoras agressivas.
Assim sendo, o plantio de espécies nativas controlado, convivendo com parte da vegetação espontânea, parece ser a melhor opção.
2- Fator de regeneração progressiva.
Em uma área degradada, a recomposição da mata se faz por etapas. Em primeiro lugar aparecem as espécies pioneiras, mais rústicas, tolerantes ao sol pleno, de pequeno a médio porte, crescimento rápido e menos exigentes. Após estabelecido o que chamamos "mato", composto destas espécies e arbustos, que normalmente são as consideradas pragas da lavoura, começam a surgir as espécies intermediárias, que se aproveitam da sombra das primeiras, e depois as chamadas "climax", que são arvores de grande porte e longevidade, que dominarão a mata, reduzindo as pioneiras a um percentual muito menor, formando o chamado sub-bosque.
Portanto, quanto a este fator, deve-se evitar o plantio de espécies climax em terreno aberto e limpo. Em grandes reflorestamentos é comum o plantio simultâneo de todas as espécies, misturadas. Considera-se então que as pioneiras se desenvolverão mais rapidamente, fornecendo sombra para as climaxes. Ou então procura-se aproveitar a vegetação existente, e plantar as climaxes em seu meio. Nestes casos, é necessário dosar a proteção fornecida pelas pioneiras, devido ao risco de abafamento, fazendo limpezas seletivas de tempos em tempos.
3- Fator clima, altitude, solo.
Existem espécies que se adaptam melhor a solo mais seco ou mais úmido, arenoso, etc. Algumas espécies preferem climas frios, outras só produzem com muito calor. Algumas exigem altitudes mais baixas ou mais elevadas. Normalmente as espécies climaxes exigem um solo mais rico em adubação. Com uma boa literatura é possível obter muitos destes dados.
Efetivamente, vai se obter um resultado melhor escolhendo-se as espécies adequadas.
4- Fator regional (macro região).
Existe uma vegetação caraterística para cada região do país. As principais são:
Floresta Amazônica
Cerrado
Caatinga nordestina
Mata Atlântica
Vegetação litorânea
Pantanal
Mata das Araucárias e campos do sul
Normalmente uma espécie que compõe a vegetação típica da região a ser reflorestada sempre se adaptará bem, respeitando-se compatibilidade de clima e solo.
Por isso é importante observar as matas remanescentes da região, identificando as espécies que se adaptam bem ali, e dar preferência a elas. É muito comum que uma espécie exuberante em uma região não consiga boa adaptação a outra, as vezes a poucos quilômetros do local. Desta forma é muito importante plantar as espécies predominantes da mata original, de preferência originárias de sementes colhidas nas proximidades, que certamente apresentarão desenvolvimento mais rápido e garantido, e depois mescla-las com outras espécies nativas de interesse.
5- Fator aplicação.
Trata-se da finalidade para que se quer o reflorestamento. Normalmente os mais comuns são três requisitos:
Árvores frutíferas para atrair e manter a fauna (muitas vezes não são frutos comestíveis para o homem),
Árvores de grande porte (as tradicionais, também conhecidas como madeira de lei)
Árvores com floração atraente, que também são melíferas, para a apicultura (procurando-se espécies que floresçam em épocas diferenciadas).
Existem muitas espécies que atendem a mais de um dos requisitos, as vezes até os três.
Alguns exemplos de espécies nativas de cada tipo.
Frutíferas: Goiaba, Araçá, Murici, Papagaio, Pombeira, Cajá, Pitanga, Gabiroba.
Grande porte: Jequitibá, Sapucaia, Peroba do Campo, Inuíba, Copaíba, Garapa.
Com Flores: Ipês, Quaresmeira, Mulungu, Canafístulas, Faveiro.

CUIDADOS NO PLANTIO E DESENVOLVIMENTO
1-      Época do plantio
A melhor época é no inicio das primeiras chuvas da temporada, geralmente Setembro a Outubro, quando a terra já estiver molhada em profundidade.
Plantar mudas já formadas, com pelo menos 20 cm de altura.
 2-      Adubação
Usamos para adubação o mesmo processo que utilizamos para formação de pomares ou culturas homogêneas. Verificar acidez do solo e corrigi-la, adubar no plantio e uma vez ao ano, antes das chuvas, até que as mudas estejam em torno de dois metros de altura.
A utilização de matéria orgânica no plantio é muito benéfica. Forrar o fundo da cova com restos de folhas e galhos recolhidos no local. Alem de prover nutrientes, ajuda a conservar a umidade do solo no período inicial.
Cuidado para que as raízes da muda nunca estejam em contato, no plantio, com o adubo químico.
 3-      Mata ou bosque
Um bosque é um conjunto de arvores plantadas uniformemente em linha, com bom espaçamento, e sem existência de outra vegetação a não ser algum gramado ou flores baixas.
Uma mata nativa é um conjunto de espécies vegetais em plena concorrência pela sobrevivência, com um rico sub-bosque, pasasitas, invasoras, arvores em disposição irregular, em geral muito próximas umas das outras, serrapilheira (conjunto de cobertura morta do solo) rica e densa.
Em uma recuperação de mata não queremos nada parecido com bosque, portanto o plantio deve ser irregular, mantendo-se ao máximo a vegetação existente (mato).
 4-      Cuidados com o mato
A existência de mato, vegetação rasteira ou arbustiva original do local, em geral invasora e agressiva, por um lado ajuda a manter a fertilidade do solo, conter erosão e diminuir o ataque das formigas.
Por outro lado ela pode abafar as mudas plantadas e matá-las. Portanto no plantio deve-se deixar um espaço limpo em volta das mudas, e fazer capina de coroamento umas duas vezes por ano, até que a muda se sobressaia da vegetação rasteira, já com uns dois metros de altura.
 5-      Formigas
As formigas, gafanhotos e grilos são grandes inimigos do reflorestamento, e podem reduzir um projeto a quase zero em pouco tempo.
Deve-se ter em mente que as formigas são agressivas na medida em que o ambiente for desequilibrado. Em uma mata nativa formada vemos grandes formigueiros e carreiras de saúvas, sem detectar prejuízos visíveis às árvores.
Entretanto, em uma área degradada as formigas são extremamente agressivas. Deve-se combate-las com métodos tradicionais (iscas, fumigação) para manter o controle. À medida que as mudas forem crescendo e formando-se um rico sub-bosque, o eco-sistema se encarregará de contê-las.
 6-      Queimadas
Com certeza um dos principais inimigos.
Manter aceiros em volta do reflorestamento, assim como manter o coroamento das mudas.
 7-      Podas
À medida que as mudas vão crescendo, diminui-se o desbaste do mato e o consorcio de plantas vai se formando. Neste momento é importante a ação do homem para ajudar a regular a concorrência natural. Observando quais as espécies se tem mais interesse, ou quais estão sendo abafadas, vai-se fazendo desbastes, podas, ou mesmo corte total de algumas. Neste ponto vale a sensibilidade e a vista dos objetivos que se pretende.
O material resultante de podas e cortes é matéria orgânica preciosa. Deve ser deixado no local para fertilizar, umedecer e proteger o solo.
Existem teorias, como a permacultura, que valorizam muito a poda, mesmo de nativas, por estes benefícios e também por arejar a arvore e eliminar envio de seiva para ramos sem chance de crescimento.

ALGUMAS ESPÉCIES USADAS EM REFLORESTAMENTO NESTA REGIÃO  (LESTE DE MG):
 PIONEIRAS
Embauba – Cecropia (diversas espécies)
Angico jacaré – Piptadenia gonoacantha
Caja mirim – Spondias monbin
Fedegoso - Senna macranthera
Fedegoso gigante – Senna alata
Leiteira – Tabernaemontana fushiaefolia
Pombeira - Cytharexylum myrianthum
Papagaio ou tamanqueira - Aegiphila sellowiana
Capixingui - Croton floribundus
Sangra d’agua - Croton urucurana
Marianeira - Acnistus arborescens
 INTERMEDIÁRIAS
Amendoim do mato – Pterogyne nitens
Aroeira vermelha - Schinus terebinthifolius
Cabreúva, Balsamo - Myroxylon balsamum
Canafístula de fava - Cassia ferruginea
Canela branca  - Ocotea spichiana
Caroba branca - Sparattosperma leucanthum
Catuaba branca - Eriotheca candolleana
Farinha seca – Albizia haslerii
Guapuruvu  - Schizolobium parahyba
Ingá – Inga edulis
Ipê amarelo do cerrado - Tabebuia chrysotricha
Ipê roxo – Tabebuia avellanedae
Jacaranda da Bahia – Dalbergia nigra
Jenipapo  -  Genipa americana
Mulungu - Erythrina verna
 CLIMAXES
Angico vermelho (mam. Porca) - Anadenanthera macrocarpa
Araribá - Centrolobium robustus
Brauna preta – Melanoxylon brauna
Cedro - Cedrela fissilis
Copaiba  - Copaifera langsdorfii
Garapa  -  Apulea leiocarpa
Cutieira ou boleira – Joanesia princeps
Inuiba - Lecythis lúrida
Ipê amarelo da mata – Tabebuia serratifolia
Jatobá – Hymeneae courbaril
Jequitibá rosa  - Cariniana legalis
Paratudo - Hortia arbórea
Pau Brasil – Caesalpinia echinata
Pau dalho - Gallesia intergrifolia
Pau ferro – Caesalpinia ferrea
Pau rei – Pterygota brasiliensis
Peroba do campo – Paratecoma peroba
Sapucaia – Lecythis pisonis
Reflorestamento se refere à atividade de replantar florestas (ou seja, que já existiram, mas) que foram suprimidas por algum motivo. Embora, erroneamente, o termo seja usado (às vezes) para designar também o plantio em qualquer área. Infelizmente, durante a ocupação do Brasil, a maior parte de sua vegetação, principalmente na região sudeste, foi sendo derrubada para a extração da madeira e, depois, plantio de diversas culturas como o café. Segundo dados da Ong SOS Mata Atlântica, da vegetação que cobria toda a região de domínio da Mata Atlântica, que vai desde o litoral Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul, restaram apenas cerca de 7% da cobertura original que continua ameaçada.
A saída então, uma vez que não podemos voltar no tempo e reverter à situação, é tentar recuperar a região devastada através do reflorestamento. E zelar para que ninguém mais destrua.
Há quem defenda que a recuperação da vegetação deve ocorrer de forma natural sem que haja a intervenção do homem mesmo que para o plantio. Mas, desta forma o processo é bem mais demorado. Então, a maioria dos proprietários de terra, que optam por recuperar antigas regiões de mata, geralmente, resolvem fazer o reflorestamento.
A recuperação natural da vegetação se dá por estágios, cada um dos quais é caracterizado pela predominância de um tipo de vegetação diferente. As espécies chamadas de pioneiras são as primeiras a aparecer e se constituem de arbustos de pequeno e médio porte e ciclo de vida curto. Já as espécies de ciclo de vida mais longo e grande porte são chamadas de “clímax” e aparecem logo depois das espécies intermediárias. Portanto, o que o processo de reflorestamento, faz é acelerar esse processo de sucessão plantando-se espécies pioneiras e clímax ao mesmo tempo de forma equilibrada. Garantindo que as pioneiras crescerão fornecendo sombra para as clímax, mas sem abafá-las.
No geral, podemos dizer que existem dois tipos de reflorestamento. Aquele com fim unicamente comercial, como reflorestamento de eucalipto ou madeira para extração de celulose, e aquele voltado para a recuperação de áreas degradadas ou criação de unidades de conservação, que não tem necessariamente um fim comercial.
No primeiro caso, a biodiversidade  fica comprometida e o interesse é apenas garantir matéria prima de forma sustentável para as indústrias. Mas, no segundo caso, a preocupação está em se reconstituir a mata o mais parecido possível com seu estado natural a fim de preservar os lençóis freáticos, o solo e até mesmo a qualidade do ar. Assim, no segundo caso, deve haver a preocupação com a variedade de espécies plantadas, mas obedecendo-se a regionalidade, pois cada região do país possui um tipo de vegetação diferente de acordo com o clima, o solo, etc.